Num bairro típico lisboeta em que já morei, havia um tipo
que passava a maior parte do dia numa das esquinas do cruzamento mais
movimentado, ora falando com este e aquele, ora não raras vezes só, encostado à
parede de um prédio a aproveitar os benefícios desta nossa Lisboa soalheira. De
vez em quando ausentava-se, mas pode-se afirmar, em tom caricatural, que aquela
esquina tinha um semáforo e o tal tipo, além da vaga incessante de transeuntes de
ocasião.
Passados uns anos, perguntei a um amigo, há muito morador no
bairro e conhecedor profundo do bas fonds
local, tendo em conta que aquele homem não parecia endinheirado, qual seria o
seu sustento. Respondeu-me que trabalhava num número e eu, ingenuamente,
demorei a perceber que se tratava de um carteirista cuja vocação profissional
encontrava num dos mais requisitados autocarros da Carris as condições óptimas
para maximizar os proventos do seu labor. Um dia, notoriamente indignado,
vociferava para quem o ouvia: “O passe da Carris está cada vez mais caro, são
uns gatunos!”. Recordo-me sempre desta história cada vez que oiço um portista a
criticar arbitragens de futebol ou de hóquei em patins.
Não conheço, no entanto, qualquer episódio ilustrativo da
inusitada propensão de hoquistas portistas para interagirem, recorrendo aos
sticks, com o público adversário. Ocorre-me uma palavra: selvajaria. E outra:
impunidade. Desde logo fomentada por quem os dirige, que aparentemente finge
tratar-se de uma reacção compreensível motivada por um excesso de adrenalina
momentâneo. E, mais grave ainda, de quem dirige a modalidade, cuja habitual
ligeireza na sanção destes casos remete-nos para a esfera dos países
subdesenvolvidos.
Jornal O Benfica - 9/11/2018
Boa noite
ResponderEliminarO problema são alguns dos nossos adeptos que com o seu comportamento tiram força à nossa razão.
O mesmo acontece sem vitórias no futebol, li agora que eles são arguidos nos emails. Não pudemos ceder.
ResponderEliminarErrata " Não podemos ceder."
ResponderEliminarPequeno pormenor... Bas fonds em bom francês o que nao é o caso do meu português... Um abraço
ResponderEliminarObrigado!
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