segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Das contagens erradas e despropositadas…

Parece um relógio suíço. Assim como, sempre que o Benfica está bem no Campeonato Nacional, logo surgem “notícias” com o intuito de provocar desestabilização ou de condicionar a arbitragem, não há hiato de títulos e troféus para o Benfica que não seja acompanhado da publicação de contagem de títulos e troféus do FC Porto. E que contagem…

Começa logo pela confusão entre títulos e troféus, fazendo-se uma amálgama destes, tudo confundindo e nada esclarecendo sobre a história do futebol português. Um título refere-se à conquista de uma prova e à possibilidade de defendê-la na edição seguinte, daí ser um título. É-se campeão, é-se detentor da Taça de Portugal. Um troféu cinge-se a uma prova em concreto: ganhou-se a Supertaça; venceu-se a Taça da Liga.

E depois o absurdo: equipara-se uma Liga dos Campeões a uma Supertaça; um Campeonato Nacional a uma Taça da Liga. Haverá algum benfiquista feliz após uma temporada em que vençamos somente uma Supertaça e uma Taça da Liga? É óbvio que não! Tão óbvio quanto a incomparabilidade da natureza, dificuldade e prestígio da cada competição.

Já para não falar da distorção da história se o objetivo é analisar-se o todo. Por exemplo, quantas Supertaças teria conquistado o Benfica se, ao invés da estreia ter sido em 1979, tivesse ocorrido em 1935 após a primeira temporada em que se disputou Campeonato Nacional e Taça de Portugal em simultâneo?

Ademais, há os erros do costume.

A Taça Latina conquistada pelo Benfica em 1950 é sempre ignorada, argumentando-se que a UEFA não a reconhece. Ora, quando a UEFA foi fundada já a Taça Latina era disputada há seis anos. A prova, como é evidente, nunca foi disputada sob a égide da UEFA e nem poderia sê-lo, pois esta entidade nem sequer existia. Mas tal não retira o carácter oficial à competição. A Taça Latina não só foi organizada pelas federações de Portugal, Espanha, França e Itália, como até o foi com a aprovação da FIFA.

Em anos recentes, as duas primeiras edições da Supertaça (1979 e 1980, ganhas, respectivamente, por Boavista e Benfica) foram postas em causa por serem oficiosas. Nunca esteve em causa que as duas primeiras edições foram organizadas, de facto, pelos clubes envolvidos (FC Porto e Sporting foram os vencidos), mas até há pouco tempo nunca a Federação havia sido contestada por ter optado por incluir as duas primeiras edições do troféu no palmarés oficial desde que assumiu a organização, em 1981. Embora tenham sido oficiosas, a FPF oficializou-as no palmarés. E nem sequer é inédito: a UEFA fez o mesmo com a primeira edição da Taças dos Clubes Campeões Europeus, então uma iniciativa do jornal L’Équipe; A FIFA também o fez com a Taça Toyota, vulgo Intercontinental. Que agora, passados tantos anos, haja contestação, diz mais sobre as motivações dos contestatários do que sobre o tema em si.

E há ainda a Taça Ibérica, uma iniciativa oficial das federações de Portugal e Espanha, sempre ignorada (cuidado com uns jogos particulares apelidados “Taça Ibérica” ou “Troféu Ibérico”, não vá os revisionistas do costume misturarem tudo).

É impressionante como o complexo de inferioridade se revela nas mais diversas formas e nas mais variadas situações. Só há uma solução para isto: ganhar o mais possível!

Jornal O Benfica 3/2/2023

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