Haverá som mais horrível que o urro que se segue a um golo do Sporting ou do Porto no estádio da Luz? Existirá, no futebol, imagem mais perturbadora do que uma horda de sportinguistas ou portistas a celebrarem no nosso estádio, fazendo lembrar o lado mais sinistro do famoso tríptico de Bosch, O Jardim das Delícias Terrenas? Julgo que não e só um triunfo remete rapidamente para o esquecimento a carga perturbadora desses eventos. Não foi o caso no sábado.
Mas, aparte essa faceta simbólica e emocional da rivalidade
desportiva, o jogo pode ser resumido às incidências que resultaram no empate.
Com a distância que o Sporting tem do Benfica, o desfecho acaba por ser
irrelevante nesta luta particular. Portanto, na prática, perdemos dois pontos,
tanto faz que tenha sido com o Sporting ou com outro qualquer.
Assim, o que realmente importa é que, à entrada da última
jornada da primeira volta, temos quatro pontos de avanço sobre o Braga e cinco
sobre o Porto, recebendo ambos na luz no segundo turno. É uma posição privilegiada
na luta pelo título. Nada garante, é certo, mas coloca-nos mais próximos do que
os nossos adversários. E premeia a equipa mais consistente nas primeiras 16
jornadas.
O jogo com o Sporting teve tudo para que sofrêssemos uma
derrota. Demorámos a entrar na partida, falhámos boas oportunidades até que, já
contra a corrente do jogo, o Sporting adiantou-se no marcador. Daí até final
quase só deu Benfica, com, pelo meio, boas ocasiões desperdiçadas pela nossa
equipa e um penálti para o Sporting a pedido de Tiago Martins, o da rábula da
moeda (quem sabe de plutónio ou qualquer coisa assim), menos solícito, como
seria de esperar, num lance pra grande penalidade sobre Rafa.
O Benfica demonstrou raça, querer, ambição e qualidade já
mais próxima daquela patenteada nos momentos altos da época. Repita-se a dose
em todos os restantes jogos e não tenho a menor dúvida de que ganharemos a
esmagadora maioria deles.
E ao olharmos para a classificação lembremo-nos do que
muitos pensaram após a derrota em Braga, só demorando uma semana para que
tenhamos assistido a uma inversão de contexto. Nenhum dos nossos adversários
apresentou, até hoje, nível exibicional e consistência para que se vislumbre,
da parte deles, muitas vitórias consecutivas.
Continuemos focados e empenhados, a fazer de cada jogo uma
final. Estamos na luta!
Jornal O Benfica - 20/1/2023
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