- Ó minha senhora, não terá para aí uns milhões que me possa dispensar?
- Ai filho, então não vês que sou pobrezinha?
- Bem sei, mas tanto faz serem notas verdadeiras ou do
monopólio, é só para enganar uns otários…
- Mas estás assim tão à rasca?
- Nem por isso, quem vier atrás que feche a porta. De vez em
quando, se estou mesmo precisado, vou ter com uns conhecidos meus que me adiantam
guita de umas coisas que tenho para receber passados uns anos. O problema,
agora, é que andam para aí a falar numas tretas que nunca me interessaram para
nada chamadas capitais próprios, breiquívens e sei lá mais o quê.
- Ah, quem conhece essas coisas é ali o Fanã, o “contabilista”.
Dizem que tem jeito para os números e parece aquele da televisão, o Luís de
Matos.
- O Luís de Matos? Não me diga que está sempre com a cabeça
inclinada e não larga o sorrisinho estranho?
- Olha, não sei, está sempre penteadinho e dizem que faz
magia.
--/--
- Desculpe, Fanã, tenho este problema assim e assado, arranja-me
uma solução?
- Até me benzo quando o vejo, senhor. Claro que sim. Há uns
ali para cima e outros ali para baixo na mesma situação. Não tem umas bugigangas
quaisquer? Eles têm e de certeza que estão dispostos a trocá-las pelas suas.
Basta dizerem que valem muito e, mesmo não valendo nada, os milhões aparecem.
Ganham todos e ainda gozam com os otários.
- Estou a ver, parece-me bem, mesmo ao meu estilo. Mas
diga-me: o de lá de cima alinha de certeza, já o de lá de baixo, com as manias
da nobreza e sempre armado em moralista, não sei não…
- Homem, confie em mim. Esse, de nobre, já nem o título tem,
e se não fosse a banca há muto que andaria pelas ruas da amargura…
Jornal O Benfica - 29/10/2021
Sem comentários:
Enviar um comentário