Portugal está fora do Europeu, o qual só interessa agora, no nosso país, aos amantes do futebol. Acabam as liturgias patrioteiras, os slogans bacocos e as gaffes de políticos sempre predispostos a cavalgarem ondas de entusiasmo colectivo. E vão-se as demonstrações exacerbadas de patriotismo de pacotilha e a comunhão artificial de um propósito. Quem finge entusiasmo pode descansar.
Resta a confirmação de que o triunfo em 2016 se tratou de um
acaso. Os jogadores figuram entre os melhores da actualidade, mas o enorme
talento disponível encontra-se agrilhoado por uma proposta futebolística
ultrapassada, desinteressante e coitadinha. É até caricato ler e ouvir muitas
das opiniões elogiosas a Fernando Santos, desde logo porque não cola com a
promoção feita ao valor dos jogadores. Diz-se que é um treinador pragmático,
orientado ao resultado, não passando estes de eufemismos para medroso e mau
futebol, respectivamente. Ganhou, é verdade, apesar dele próprio. Não se
entende que aquele conjunto de jogadores de inegável competência só assuma a
iniciativa do jogo quando em desvantagem.
E depois o capitão e a braçadeira, que em nada se coaduna
com as mensagens de marcas ávidas por consumidores patrioteiros. Entendo a
frustração e não condenaria o gesto irreflectido se isolado, mas a repetição do
mesmo em meses já incomoda. Num país de ronaldettes, a crítica a Ronaldo parece
ilegal, ao ponto de se constituir um crime lesa-pátria preferir Messi. Talvez,
afinal, ser capitão da selecção não tenha significado por aí além, já que nada
se diz do episódio além da costumeira desresponsabilização e muito menos haverá
consequências. Importante será uns quantos amigáveis para assegurar recordes…
Jornal O Benfica - 2/7/2021
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