Na semana passada, Pinto da Costa afirmou que “o futebol não
pode ser uma guerra, tem de servir para unir o país”. Logo o acusaram de
hipocrisia, o que se compreende. Porém, justiça lhe seja feita, é sobretudo uma
vítima da sua megalomania e incompetência e, verdade seja dita, da incapacidade
dos seguidores do desporto português em lhe reconhecerem, simultaneamente, o
empenho em prol de tamanho desiderato e a obstinação pela perseguição de um
objectivo nobre e porventura inalcançável, exigindo-lhe permanente pragmatismo
e a constante prevalência do bem maior, mesmo que por vezes se veja na
contingência de tomar caminhos enviesados. Em poucas palavras, o homem não só é
um papa, merece a canonização.
Ciente da enorme empreitada a que se dedicou, começou por
dar pequenos passos, alcançando sucesso, embora parcial por não ter percebido
que já os romanos diziam que neste canto da Ibéria havia um povo que nem se
governava nem se deixava governar. Enfim, somos muitos, demasiados para sermos
unidos por um homem só. Nem Alberto João Jardim o conseguiu com os madeirenses,
uma pequena parcela do país.
Alguns árbitros, dirigentes associativos (até de clubes), jornalistas,
autarcas e muitos outros viram-se subitamente unidos, o que não é despiciendo.
Afinal de contas são portugueses e tinha de começar por algum lado. A meio do
caminho desviou-se e procurou, talvez fruto de um inusitado fervor pós-colonialista,
incluir cidadãs brasileiras. E depois destas, sportinguistas em cargos
directivos apoiados por uma turba desesperada. Falhou clamorosamente, o “país”
continua desunido e o futebol é, infelizmente, uma guerra. Ou então é mesmo
hipócrita.
Jornal O Benfica - 12/10/2018
Sem comentários:
Enviar um comentário