Não se apoquente: “O Novo Banco cancelou uma conta
caucionada de perto de 70 milhões de euros ao Benfica (...) que se encontra sob
forte pressão de financiamento (...) e perde o seu parceiro financeiro
predilecto numa altura especialmente difícil. (...) O Benfica enfrenta
necessidades de refinanciamento ou de reembolso de créditos de quase 200
milhões de euros. (...) É com estes números na cabeça que se pode explicar a saída
de jogadores. (...) Do susto ao pânico é um passo pequeno. (...) Os custos
desportivos serão aferidos a partir de Setembro, altura em que a janela das
transferências se fecha e quando se abrem as verdadeiras caixas de Pandora”.
Este artigo de opinião alarmista, embora trasvestido de
notícia, foi publicado no Expresso, em agosto de 2014. Desde então, o Benfica
venceu três campeonatos e outros títulos e troféus e apresentou as melhores
contas da história da Benfica, SAD. Abriu-se, de facto, uma verdadeira caixa de
Pandora: Se esta peça atesta a qualidade jornalística da grande referência do
jornalismo em Portugal, imagine-se a de outras publicações...
Mas os gregos, que eram dados à tragédia, não se ficaram por
Prometeu e Pandora. Hermes, por seu turno, ocupou-se de Sísifo, condenando-o
perpetuamente a empurrar uma pedra até ao cume de uma montanha, a qual
resvalaria sempre que o pobre Sísifo alcançasse o destino. Hoje, em tempos de
maior civismo e urbanidade, talvez fosse condenado a desempenhar as funções de jornalista,
tendo que, ciclicamente, escrever um artigo premonitório, nas parangonas, de
caos benfiquista, mas desoladoramente (para ele) inócuo no conteúdo. Ou talvez
não, que o que interessa é vender jornais hoje, amanhã sabe-se lá...
Jornal O Benfica - 28/9/2018