quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Não passarão

Está para breve o anúncio das conclusões do estudo de uma Comissão, instituída pela Federação Portuguesa de Futebol, acerca do pedido do Sporting para que os vencedores do Campeonato de Portugal sejam considerados campeões nacionais. E como pedir não custa, o Sporting pretende ainda que as quatro primeiras edições do Campeonato Nacional sejam expurgadas do palmarés, alegando que foram experimentais.

Vindo este pedido do Sporting, só faltará que, não obstante a questão dos títulos, se continue a contar com os golos marcados, de forma a garantir que Peyroteo perdure na liderança dos goleadores da prova. Não me admirarei se for este o caso, afinal do Sporting tudo deve ser esperado.

Veja-se bem: num ápice, por decreto administrativo sem qualquer base factual, o Sporting passaria a contar com 23 campeonatos nacionais ganhos (mais quatro). O Porto com 32 (mais quatro e menos um). E o Benfica continuaria nos 37 (mais três e menos três).

E o que dizem os factos? Basta ler o relatório da FPF sobre 1938/39, no qual é referido que o Campeonato da I Liga passou a ser denominado de Campeonato Nacional e o Campeonato de Portugal passou a ser chamado Taça de Portugal.

A alteração dos nomes demonstra o que é cada competição. Aquela em que se apura o campeão nacional começou em 1934 e teve o nome modificado em 1938. A Taça de Portugal foi estreada em 1922, tendo o nome sido mudado em 1938. O que não mudou foi a natureza, o formato e até os troféus de cada prova (no da Taça continuaram a constar as placas dos vencedores desde 1922) e ninguém, em 1938, esperou que tal ocorresse, uma vez que as competições eram as mesmíssimas, mas com nome diferente.

Que o Sporting faça um pedido destes, pretendendo adulterar na secretaria o que alcançou em campo, é uma coisa, mas que a Federação sequer tenha aceitado estudar o caso já roça o domínio do absurdo.

A lata com que estes dirigentes da Federação ousam pôr em causa o que os seus antecessores, em conjunto com as associações regionais, determinaram no tempo certo, é absolutamente espantosa. O desrespeito por quem decidiu em conformidade com a realidade é inqualificável.

Esperemos que o bom senso e o respeito por todos os que se dedicaram ao futebol no passado prevaleçam sobre estes movimentos insidiosos e atentatórios à história do futebol português.

Jornal O Benfica - 28/1/2022

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