Começo por dizer que aplaudo todas as iniciativas que fomentem a ida de adeptos aos estádios. Logo, aplaudo a iniciativa “O futebol és tu”, promovida pela Liga na presente temporada.
No entanto, creio que o problema que esta acção procura
mitigar resulta de outras questões mais profundas. A venda de bilhetes a preços
mais baixos torna a ida a um estádio mais comportável, mas tem um impacto nulo
nas restantes variáveis, tais como, entre outras, as condições de acesso e
permanência nas bancadas, a segurança, a qualidade dos relvados, os horários
dos jogos, o nível dos espectáculos ou a competência das arbitragens.
E não ajuda que a Liga tente doirar a pílula neste tema. São
várias as frentes carecidas de soluções, todas devem ser abordadas com carácter
de urgência.
Repare-se no comunicado da Liga sobre a iniciativa,
intitulado “O estrondoso sucesso do arranque da campanha O Futebol és Tu”, no
qual são divulgados uma série de dados que procuram justificar o elogio em sede
própria.
Face aos dados apresentados, não nego o impacto positivo da
medida, embora longe de “estrondoso”. Mas há que relativizá-los, bastando para
isso constatar que seis dos nove jogos realizados tiveram uma assistência inferior
a 5700 espectadores e cinco das partidas não ultrapassaram os 4300 adeptos nas
bancadas.
Mesmo a tão evocada melhoria na taxa média de ocupação dos
estádios deveria causar incómodo, ao invés da autopromoção. A maioria das
lotações são exíguas e, ainda assim, esteve-se longe de casas cheias.
Exceptuando-se o caso do Moreirense, cujos 5674 espectadores no jogo com o FC
Porto ocuparam 92,2% dos lugares disponíveis, só mais dois estádios tiveram
apresentaram uma moldura humana acima dos 70% da capacidade disponível (Bessa e
Alvalade, ou seja, jogos do Benfica e Sporting).
É curto, muito curto. Tão curto que o “sucesso estrondoso”
só se aplica à falta de noção ou vergonha.
É a liga faz de conta que temos. A mesma que, enquanto diz
aos adeptos que o futebol são eles, permite que muitos deles paguem 70€ por um
bilhete e sejam limitados no uso de adereços relativos ao clube que apoiam, sem
que se perceba a razão, dado que, segundo relatos de quem lá esteve, todos os
adeptos nessa bancada eram afectos ao clube visitante, o Benfica. A
confirmar-se, a pretensa medida de segurança não mais é do que uma tentativa de
ilusão quanto à dimensão da massa adepta do clube visitado. Nada de novo,
diga-se de passagem.
Jornal O Benfica - 18/8/2023
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