Desde miúdo que, para mim, “Ângelo” era sinónimo de benfiquismo e grandeza. Apercebi-me da presença constante do nome Ângelo nos maiores feitos do clube ao perscrutar os livros sobre o Benfica, mas era pela voz do meu pai que “Ângelo” ressoava em mim como um símbolo benfiquista, merecedor de admiração incondicional e de múltiplos elogios.
Havia uma clara distinção entre a linha da frente e os
outros. O Ângelo fazia parte dos outros, igualmente imprescindíveis. A
polivalência do Cavém, a “loucura” do Cruz, a classe do Germano e a raça, mas
com técnica, do Ângelo, em nada eram desmerecidas pelo meu pai nas sucessivas e
reiteradas loas, obviamente nostálgicas, ao Benfica europeu da década de 60.
E, quanto ao Ângelo, acrescia a particularidade do meu pai
ter tido o privilégio de o ter conhecido. O Ângelo não era apenas um dos
maiores nomes da história do Benfica, sabia-o também um defensor intransigente
da causa benfiquista, um formidável contador de histórias e um homem que
conjugava uma rara capacidade para se mostrar disciplinador com os miúdos que
formava enquanto, num registo informal, agraciava os convivas com o seu sentido
de humor apurado.
E os anos passaram, cresci, desenvolvi a minha cultura benfiquista
e tornei-me autor de vários livros sobre o nosso clube. Foi na apresentação de
um deles que o Ângelo, o super-herói, passou a ser, para mim, de carne e osso,
o Senhor Ângelo. A humildade e simpatia do Senhor Ângelo foram desconcertantes.
Não fiquei seguro de ele se ter apercebido do meu aperto de mão carregado de
admiração, adquirida e herdada, que sentia por ele. E, por isso, fiz questão de
a verbalizar. Nunca esquecerei a resposta: “Meu amigo, todos fazemos o que
podemos pelo nosso Benfica”. Paz à sua alma!
Jornal O Benfica - 16/10/2020
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