sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Para lá do Benfica

“O que mais poderei procurar?”, pergunta Nemorino (tradução livre de “Che più cercando io vo?”) na ópera O Elixir do Amor, de Donizetti, mais concretamente na celebérrima ária Una Furtiva Lacrima. Lembrei-me desta passagem ao constatar a emoção de Fejsa durante toda a entrevista, concedida à BTV, para assinalar a despedida do Benfica.

Rodeado pelos 14 troféus que ajudou o clube a conquistar (embora não tenha jogado em duas das quatro supertaças), o nosso (agora) antigo jogador desfez-se em pranto, incapaz de suster as lágrimas, como que se perguntando o que mais poderá procurar após sete anos de águia ao peito.

Fejsa não foi formado no Benfica, mas defendeu as nossas cores com benfiquismo. Graças ao seu profissionalismo, competência, dedicação, espírito de equipa, capacidade de superação e competitividade, portanto, numa palavra, mística, o sérvio revelou ser um jogador modelo para todos os que ambicionam, um dia, merecer a suprema honra de representar o nosso clube.

Rúben Dias reúne as mesmas qualidades de Fejsa, mas exacerbadas pelo benfiquismo de berço, além de ter ainda muitos anos de futebolista pela frente. Embora mais contido que o antigo colega, aquela pausa na entrevista rápida após o jogo com o Moreirense foi muito reveladora. O Rúben não interrompeu o discurso para pensar no que haveria de dizer; pelo contrário hesitou porque sabia perfeitamente o que lhe ia na alma. Tento imaginar-me no lugar dele: convicto de ter dado o passo certo, futebolística e, sobretudo, financeiramente, mas ciente de que, só talvez num futuro a longo prazo, voltaria a orgulhar-me de representar o meu clube. As libras são muitas e a ambição profissional é satisfeita, mas não deve ser fácil.

Jornal O Benfica - 02/10/2020

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