O aforismo sobejamente conhecido, popularizado em inglês, no news is good news (não haver notícias é boa notícia) há muito que caracteriza, na perfeição, a relação entre a comunicação social e os consumidores de notícias. Só é notícia o que está mal. E se nada está mal, o ciclo noticioso tem de continuar a ser alimentado de alguma forma. A transformação do sector nos últimos 25 anos, nomeadamente a acentuada redução das receitas, agudizou esta tendência. E o tratamento dado ao último relatório e contas apresentado pela SAD do Benfica é, na melhor das hipóteses, só mais um exemplo paradigmático deste contexto.
Sob qualquer prisma, deve-se reconhecer as magníficas contas
apresentadas. Resumindo: Segundo maior lucro da história, o sétimo consecutivo;
Reforço dos capitais próprios muito para lá do capital social; Aumento do
activo; Queda do passivo na ordem dos 10%; Endividamento financeiro aquém dos
100 milhões de euros, o mais baixo da década; Dívida líquida a atingir um
mínimo histórico; Recorde de receitas (quase 300 M€); Rendimentos operacionais,
sem atletas, que bateriam o máximo anterior não fosse a pandemia; Etc.
Perante isto, o que foi destacado na comunicação social? O
cumprimento, à risca, de uma recomendação da UEFA no âmbito do Fair Play
Financeiro. Vou repetir: o cumprimento de uma recomendação! E nem valerá a pena
mencionar que, nos restantes indicadores e recomendações, a situação da SAD do
Benfica é exemplar. Isto num país que tem um clube intervencionado pela UEFA e
outro que, não fossem os perdões da banca, desculpem, a reestruturação da
dívida bancária, se calhar já nem existiria. E ambos estão falidos tecnicamente
há vários anos, um mero pormenor.
Necessidade ou agenda?
Jornal O Benfica - 18/09/2020
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