segunda-feira, 17 de abril de 2023

Olhar em frente

Foi uma semana dura. Perder dois jogos consecutivos seria sempre penoso, mas frente ao adversário directo no Campeonato e no desafio da primeira mão dos quartos de final da Liga dos Campeões pesa ainda mais, até porque as expectativas eram altas e o sonho enorme, ambos solidificados num percurso extraordinário ao longo da temporada.

Observe-se o que se perspectivava anteriormente: uma vitória ante o Porto fecharia as contas do título, só restando a matemática, a indefinição de quando conquistaríamos de facto o 38 e o prazer de ver bom futebol para nos entretermos; um triunfo ante o Inter colocar-nos-ia numa situação favorável para regressarmos, 33 anos depois, às meias-finais da Liga dos Campeões.

Duas possibilidades reais, bem reais, que resultaram em frustração. No primeiro jogo, a desilusão é também alimentada por uma muito surpreendente e imprevisível, por certo pontual, incapacidade para tornear as dificuldades causadas pelo adversário naqueles 90 e poucos minutos; no segundo, prevalece uma sensação diferente, a de que a sorte do jogo nada quis connosco, a arbitragem desajudou e que, por muita teorização que se possa fazer acerca dos aspectos técnico-tácticos, reinou quem foi mais eficaz.

Acontece. Mas, por acontecer, não significa que se deva passar uma esponja por tudo o que de muito bom foi feito ao longo da época. Repare-se: estávamos numa sequência de dez jogos sempre a ganhar no campeonato; íamos em 12 jogos na Liga dos Campeões sem perder, o máximo na história do Benfica.

Sei que a memória dos adeptos por vezes é curta e que vivemos o clube com desmedidas paixão e intensidade, importando sobretudo o presente. Mas o que a mim me diz o passado recente é que não tenho razões para temer o futuro imediato. E espero que o plantel sinta o mesmo. Tenho a certeza de que não desaprenderam de jogar à bola. E jogando o que sabem, o que já demonstraram na grande maioria dos jogos nesta temporada, têm tudo para serem campeões. Porventura, com alguma sorte e muita inspiração, até de continuarem em prova na Europa.

Eis a verdade inexorável: faltam sete jornadas para terminar o Campeonato, das quais temos de vencer em cinco delas (ou em quatro com três empates). Não há razão alguma para que não o consigamos. E a eliminatória com o Inter, apesar do cenário negro, não está fechada. Só é impossível se não tentarmos.

Jornal O Benfica - 14/4/2023

Números da semana (119)

6

No jogo com o Inter, o estádio da Luz teve uma assistência superior a 60 mil pela 6ª vez na presente temporada (a maior da temporada – 62594), a 16ª acima dos 55 mil, a 20ª com mais de 50 mil, em 22 jogos a contar para competições oficiais. Sobram os desafios com o Vizela (47958) para o campeonato e com o Penafiel para a Taça da Liga (43263);

7

O Benfica tem 7 pontos de vantagem no Campeonato Nacional de futebol quando há 7 jornadas por disputar;

9

Rafa passou a ser o 9º mais utilizado no atual estádio da Luz (9783 minutos – inclui jogos particulares e tempos adicionais). Dos elementos do atual plantel, é o 3º, atrás de Grimaldo (3º no geral) e Odysseas Vlachodimos (8º no geral). Mas, em número de jogos, Rafa, com 141, é o 2º (7º no total), apenas superado por Grimaldo (6º com 144), num ranking liderado por Luisão, com 273. Rafa é ainda o 7º com mais golos (37) e o 5º com mais assistências para golo (28);

13

Terminou a série mais prolongada de sempre do Benfica de jogos sem derrotas nas competições europeias, 13. Começou em Liverpool, na temporada passada, e estendeu-se até esta semana, na Luz frente ao Inter;

29

29 anos depois, o Benfica voltou a sagrar-se campeão nacional de natação. É o 6º título nacional para as águias. A equipa feminina classificou-se na segunda posição, a escassos 9 pontos do lugar cimeiro. Os homens conseguiram 16 medalhas, enquanto as mulheres chegaram às 13, sendo que o Benfica foi o clube com mais nadadores nos pódios (29);

100

Chiquinho chegou aos 100 jogos pelo Benfica em competições oficiais (e atingiu os 50, incluindo particulares, no estádio da Luz de águia ao peito);

Jéssica Silva atingiu a centena de internacionalizações por Portugal.

Jornal O Benfica - 14/4/2023

quarta-feira, 12 de abril de 2023

Parece que há um jogo com o FC Porto

No dia em que escrevo, ouvi uma história sobre um homem, o qual, já há uns 50 anos, costumava frequentar o Jardim da Parada, o “centro” do bairro lisboeta de Campo de Ourique, fazendo-se sempre acompanhar de quatro ou cinco livros, o que, muito naturalmente, suscitou curiosidade.

Quem seria? O que faria? Talvez se tratasse de um antigo aluno de engenharia que enlouquecera de tanto estudar, porventura um dilecto professor reformado ou mesmo um escritor desinspirado à procura de dias mais inspirados. E lá alguém desvendou o mistério: simplesmente era um tipo que gostava de ir ao jardim para ver as modas e passear livros, além de ser analfabeto.

Caro leitor, como já terá percebido, esta crónica é sobre irrelevâncias. Até porque necessito de evitar a todo o custo a confissão sobre quão emocionado fiquei – quase lacrimejei, passo a rima – com as palavras simpáticas e muito acertadas, quem diria, do Sérgio das antevisões sobre o percurso do Benfica na presente temporada.

Desconheço o que pensa o Sérgio dos bancos sobre o Sérgio das antevisões, mas coisa boa não será. E nem sequer consigo imaginar o que o Sérgio dos pós-jogos sentirá pelo Sérgio das antevisões.

Conflitos de personalidade? Não sou especialista. Jogos mentais de vão de escada? É possível. Sinceridade? Já vi de tudo. Até um qualquer treinador, não sei se das antevisões ou dos pós-jogos, a desculpar-se com a ausência de reforços enquanto remete para a bancada o jogador mais caro de sempre do futebol português. Nenhuma das versões é para levar a sério.

Mas, não só há vários Sérgios, como parece haver Varandas para todos os gostos. Aprecio particularmente este que tem o condão de nos relembrar que há uma distinção clara, embora pouco preponderante dos primeiros, entre sportinguistas e lagartos.

O estereótipo de lagarto alude à imagem das touradas: ponham vermelho à frente e já se sabe quem faz o quê. No entanto, esta imagem não vale as palavras suficientes para que a ideia seja completa.

Aquela entrevista repleta de alarvidades do Varandas em modo Afeganistão – nunca o Varandas em modo negócio com o FC Porto de trocas de jogadores que ninguém ouviu falar por 15 milhões de euros daria tal entrevista – pode ser explicada numa frase: O Sporting corre o risco de ficar em quarto lugar e, mais relevante, há a percepção generalizada de que o Benfica será o campeão. Tão evidente quanto previsível, até aborrece.

Reconheça-se, no entanto, que alguma coisa teria de ser dita. É mesmo muita a areia que tem de ser atirada para os olhos (perdão, para a vista). Ressalve-se que não uma qualquer, só proveniente do Ancão, da Comporta, dos Salgados – em São Martinho, claro – ou de Moledo), afinal eles dizem-se diferentes. E são-no mesmo: o poço de virtudes é tão fundo, tão fundo, que, ao longo dos anos, se afundaram em episódios rocambolescos da mais variada espécie. Já dizia o outro: faz o que ele diz, não faças o que ele faz.

E eis que os irrelevantes vieram todos dar à costa. Acabei de ouvir um antigo futebolista do FC Porto cujo maior feito foi ter marcado um golo irregular na Luz – um verdadeiro jogador à FC Porto – afirmar que não há nada melhor do que ganhar aos mouros. Aqui está um belo exemplo da propagação da ignorância. Mas a culpa não é dele. Os tontos que gostam de apelidar de mouros as gentes de Lisboa, como se os mouros não tivessem ocupado toda a Península Ibérica à excepção das Astúrias, influenciaram o rapaz e, diga-se de passagem, sempre é melhor do que nos chamar inimigos. Por isso, merece ser informado.

Por cá, mas também em qualquer lugarejo brasileiro, usa-se os algarismos arábicos, perfeitos para fazer contas simples como, por exemplo, a mais desejável 74-61. Acaso seja 71-61 ou 71-64, cá estaremos no fim sem necessidade de calculadora, mas cientes de que, independentemente das circunstâncias, a águia voa sempre mais alto.

Jornal O Benfica - 7/4/2023

Números da semana (118)

3

O Benfica conquistou a 3ª Taça da Liga na vertente feminina do futebol;

Diogo Ribeiro tem presença assegurada em Paris 2024, é o primeiro português a garantir a qualificação. É também o primeiro nadador nacional a poder participar em 3 especialidades numa edição dos Jogos (50 e 100 metros livres e 100 metros mariposa). Os 3 mínimos alcançados são todos recordes nacionais;

6

6ª deslocação consecutiva no Campeonato Nacional sem golos sofridos, igualando a melhor série de sempre numa época (já acontecera 2 vezes – 1975/76; 1977/78);

7

O Benfica venceu a Taça de Portugal de futsal no feminino pela 7ª vez;

8

O Benfica venceu a Taça de Portugal de futsal no masculino pela 8ª vez;

10

São 10 as vitórias consecutivas no Campeonato Nacional. É a 14ª vez que o Benfica chega à dezena de triunfos consecutivos numa edição desta competição (excluindo sequências de 10 vitórias incluídas em séries mais prolongadas – máximo de 23 em 1972/73);

25

Na presente época, com 10 a 13 jogos por disputar, Gonçalo Ramos leva 25 golos, todos de bola corrida. Desde 1990/91, só os seguintes jogadores marcaram mais numa só temporada, excluindo penáltis: 29 (Jonas – 2014/15, 2015/16 e 2017/18); 28 (Cardozo – 2009/10; Darwin – 2021/22); 27 (Seferovic – 2018/19); 26 (Nuno Gomes – 1998/99; Lima – 2012/13);

32

Grimaldo representou o Benfica pela 293ª vez em competições oficiais e passou a ser, a par de Cardozo, o 32º com mais “jogos oficiais” pela equipa de honra benfiquista;

39

Gonçalo Ramos passou a integrar o top60 dos melhores marcadores de sempre da equipa principal do Benfica em competições oficiais, soma 39 golos, assim como Vata e Saviola;

2026

Roger Schmidt prolongou o vínculo ao Benfica até 2026.

Jornal O Benfica - 7/4/2023

domingo, 2 de abril de 2023

Da previsibilidade...

Já cá faltava o recurso ao discurso bacoco de uma suposta luta contra o centralismo, de vez em quando alardeada por políticos no âmbito regional ou, quase sempre que o momento desportivo não corre de feição, pelo presidente do FC Porto.

Basta parecer que a época correrá bem ao Benfica para que logo surjam declarações sobre os poderes concentrados na capital. É uma espécie de pronto-a-dizer, mais do que previsível, tão estafado que só não enjoa porque a reiteração desta ideia é sinónimo de sucesso benfiquista.

Justo é reconhecer que já ninguém liga. Claro que uns quantos idiotas replicam o argumentário e outros tontos e pobres de espírito acreditam no que lhes é impingido, mas a verdade é que são cada vez mais aqueles que optam por ignorar as declarações regurgitadas.

O que faz a comunicação social, salvo honrosas excepções? Divide-se entre bajuladores e reprodutores acríticos, em ambos os casos prestando um mau serviço ao jornalismo. Os primeiros alegam combatividade, os segundos coisa nenhuma dizem; os primeiros reforçam a mensagem, os segundos, ao não exporem o ridículo que a caracteriza, legitimam-na.

E claro que, apesar de, no essencial, o teor propagandístico versar sempre sobre o mesmo assunto e as motivações pouco ou nada variarem, há detalhes que tornam singular cada intervenção. Desta feita, embora talvez não seja a primeira vez, foi o uso da expressão “o nosso inimigo está a 300 kms”.

Que já não haja quem fique chocado por se chamar inimigos a, supõe-se, concorrentes desportivos, diz muito sobre o autor da afirmação. É uma questão de hábito. Porém, há que dizer que, por cobardia, esquecimento, lapso momentâneo ou tique de linguagem, o tal inimigo não foi especificado.

De Vigo não será, pois lá só se lhe conhecem amigos e, em rigor, a cidade galega fica a uns 150 kms das Antas. Põe-se a hipótese, enfim, muito remota, de uma qualquer localidade a 300 kms do Porto albergar servidores do Youtube nos quais estão alojadas as escutas do Apito Dourado que tão cristalinamente demonstram com que métodos, no futebol português, se trava a batalha ao pretenso centralismo. E muito menos provável será que se trate do Jardim Zoológico de Lisboa, no qual, não obstante a exibição de pintos e macacos, a inexistência de dragões suscita dúvidas, importando esclarecê-las sem margem para contestação.

(A propósito, não tendo, no entanto, relação com o tema, hoje li em qualquer lado que os ursos polares gritam quando evacuam. Se tivessem o dom da palavra, talvez vociferassem contra os efeitos do centralismo no futebol cá do burgo).

Mas o que é certo é que, a confirmar-se tratar-se do Benfica o alvo no dislate, mais importante do que me motivar a escrever uma crónica jocosa ou de revelar uma gritante ausência de princípios e valores desportivos, é a constatação de que o momento aparentemente exige, do ponto de vista do autor, união perante o tal inimigo. E olhem quem, que ainda há uma ou duas semanas protagonizou um bate boca via comunicação social com o treinador que contratou e mantém no cargo. É cá um apelo à união...

Jornal O Benfica - 31/3/2023

Números da semana (117)

1

Os iniciados do Benfica ascenderam, na sétima jornada, à liderança isolada da fase de apuramento do campeão, só conhecendo ainda o sabor da vitória no período decisivo da época;

3

Fernando Pimenta (masculino), Teresa Portela (feminino) e João Duarte (sub23) sagraram-se campeões nacionais de fundo na canoagem;

12

Foram 12 os elementos do plantel da equipa A do Benfica em ação por várias seleções;

13

O Benfica está na final do campeonato de voleibol pela 13ª temporada consecutiva e procura perfazer o tetra, o qual nunca conseguiu;

15

É já neste fim de semana que se realiza a 15ª Corrida Benfica António Leitão;

22

A equipa feminina de basquetebol do Benfica terminou a fase regular com um pleno de triunfos: 22;

60

A gala de patinagem artística “Momentos”, realizada em Portimão, contou com mais de 60 atletas do Benfica;

112

É com 112 golos marcados, tantos como em 2021/22 e mais do que em 2020/21 ou 2019/20, quando ainda estão por disputar pelo menos 11 jogos e, no máximo, 114, que a equipa de futebol do Benfica regressa à competição após paragem para compromissos das seleções. Na luta pelo Campeonato Nacional e pela Liga dos Campeões, que a veia goleadora continue apurada!

500

A secção de ginástica e artes marciais do Benfica chegou aos 500 praticantes na presente temporada;

27221

Está estabelecido o novo recorde de espectadores num jogo de futebol no feminino em Portugal. O anterior recorde (15204) acontecera no jogo solidário por Moçambique, no estádio do Restelo, disputado entre Benfica e Sporting. Cingindo às competições oficiais, o máximo havia sido no estádio da Luz, também num dérbi de Lisboa (15032).

Jornal O Benfica - 31/3/2023

Números da semana (171)

1 O Benfica conquistou, pela 1ª vez, a Taça FAP de andebol no feminino; 3 Di María isolou-se na 3ª posição do ranking dos goleadores b...