Os amantes de literatura sobre futebol têm a noção perfeita de que a história e os feitos são importantes, até fundamentais para a compreensão do jogo e da sua evolução, mas é, a par das vivências pessoais e da paixão por jogar à bola, nas histórias e no contexto das mesmas que reside o fascínio pelo fenómeno futebolístico.
Não haverá melhor exemplo desta realidade do que o contraste
entre o dado objetivo “Alemanha campeã do mundo em 1974” e a asserção subjectiva
de que os preceitos do “futebol total” do finalista vencido, a Holanda,
alicerçada no Ajax, de Michels e Cruyff, ainda hoje influenciam as abordagens
tácticas.
Não estou agora a renegar a estatística, à qual, em
particular a relativa ao futebol e basquetebol benfiquistas, dedico apaixonadamente
parte do meu tempo. É essencial saber, por exemplo, que Darwin já marcou cinco
golos e fez seis assistências nos primeiros onze “jogos oficiais” de águia ao
peito. Os números permitem-nos comparar e estabelecer paralelismos ou acentuar
diferenças, não obstante o seu carácter burocrático, por vezes enganador.
E aí surgem as histórias enquanto factor diferenciador, apesar de maleáveis por vontade dos fregueses. Estou convicto de que muito se escreverá sobre Darwin na próxima década. E a acompanhar os números entusiasmantes dos seus primeiros passos na alta competição, terá obrigatoriamente de se versar sobre o golo marcado à Colômbia esta semana, o segundo pelo Uruguai à terceira internacionalização.
O miúdo que carrega nos ombros a
responsabilidade de ser considerado o sucessor de dois vultos do futebol mundial,
Cavani e Suárez, o que seria um fardo para muitos, viu numa nesga de espaço a
possibilidade de ser feliz e não hesitou. Marcou um grande golo, marcará muitos
mais!
Jornal O Benfica - 20/11/2020
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