terça-feira, 17 de novembro de 2020

Amarelos

Há um fenómeno no futebol português que, de tão recorrente, já passou a regra tácita: o primeiro cartão amarelo de um jogo em que o Benfica seja interveniente, não se adiantando no marcador numa fase inicial, é sempre para um jogador do Benfica.

Admito que os factos possam contradizer-me, mas esta é a sensação que tenho. A rábula já aborrece, tantas foram as suas representações.

Os adversários recorrem sistematicamente a faltas para evitarem o que poderá resultar numa jogada perigosa ou simplesmente para quebrarem o ritmo de jogo enquanto os árbitros, por seu turno, se limitam ao uso do apito, até que o ocaso do preâmbulo do primeiro cartão amarelo do jogo se dá ao ser indicado (por vezes duas ou três vezes conforme necessário), geralmente de forma teatral, que não mais serão permitidas as faltas sem que se lhes suceda a admoestação de um cartão amarelo. Invariavelmente, entre essas faltas constam uma ou duas claramente para cartão inexplicavelmente deixado no bolso (alguns comentadores, benevolentes ou fanáticos, teorizam sobre a gestão da partida). E eis que, inevitavelmente, um qualquer jogador do Benfica faz uma falta para cartão e é admoestado. Um clássico. A mais recente reposição da rábula aconteceu no Bessa.

Longe de mim justificar a derrota com este fenómeno. Perdemos porque fomos piores que o adversário e não tivemos a sorte do jogo, a qual pouco procurámos, há que reconhecê-lo. Decerto que, no entanto, a “gestão da partida” não só não nos ajudou como ainda nos prejudicou. E mais preocupa o evidente contraste com a actuação absolutamente desastrosa do árbitro na primeira parte do Paços de Ferreira – Porto, em claro benefício dos segundos, como está a ser, em mais uma época, habitual...

Jornal O Benfica - 6/11/2020

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