Há um fenómeno no futebol português que, de tão recorrente, já passou a regra tácita: o primeiro cartão amarelo de um jogo em que o Benfica seja interveniente, não se adiantando no marcador numa fase inicial, é sempre para um jogador do Benfica.
Admito que os factos possam contradizer-me, mas esta é a
sensação que tenho. A rábula já aborrece, tantas foram as suas representações.
Os adversários recorrem sistematicamente a faltas para
evitarem o que poderá resultar numa jogada perigosa ou simplesmente para
quebrarem o ritmo de jogo enquanto os árbitros, por seu turno, se limitam ao uso
do apito, até que o ocaso do preâmbulo do primeiro cartão amarelo do jogo se dá
ao ser indicado (por vezes duas ou três vezes conforme necessário), geralmente de
forma teatral, que não mais serão permitidas as faltas sem que se lhes suceda a
admoestação de um cartão amarelo. Invariavelmente, entre essas faltas constam
uma ou duas claramente para cartão inexplicavelmente deixado no bolso (alguns
comentadores, benevolentes ou fanáticos, teorizam sobre a gestão da partida). E
eis que, inevitavelmente, um qualquer jogador do Benfica faz uma falta para
cartão e é admoestado. Um clássico. A mais recente reposição da rábula
aconteceu no Bessa.
Longe de mim justificar a derrota com este fenómeno.
Perdemos porque fomos piores que o adversário e não tivemos a sorte do jogo, a
qual pouco procurámos, há que reconhecê-lo. Decerto que, no entanto, a “gestão
da partida” não só não nos ajudou como ainda nos prejudicou. E mais preocupa o
evidente contraste com a actuação absolutamente desastrosa do árbitro na
primeira parte do Paços de Ferreira – Porto, em claro benefício dos segundos,
como está a ser, em mais uma época, habitual...
Jornal O Benfica - 6/11/2020
Sem comentários:
Enviar um comentário