O admirável escritor Mário de Carvalho, em tempos, referiu-se
ao ego, cuja palavra, “lida na natural direitura, apenas lhe falece um 'c' para
não ser 'cego'”, explicando, inadvertidamente, a temporada futebolística
prestes a findar.
Os dirigentes portistas, ofuscados pelo sucesso da época
passada, glorificados pelos seus acólitos e nunca perturbados pela comunicação
social, julgaram ter encontrado a fórmula perfeita para, senão perpetuar, pelo
menos esticar o tal sucesso. E a vida correu-lhes bem: se a competência em
campo vacilava, a força fora dele compensava. Mesmo árbitros imunes à magia da
supracitada fórmula teriam os seus limites, nem que, para que soçobrassem, fosse
necessária uma conversa em centros de treinos.
O ego cresceu e a cegueira aumentou, iludindo quem, julgando
que práticas recicladas reproduzem efeitos iguais, passearia no campeonato e
apostaria na Europa. Mas a máquina em campo engasgou-se com experiências
tácticas e os árbitros atingiram o ponto de saturação em Braga. Após essa
partida, o F.C. Porto, até então levado ao colo, viu-se obrigado a andar e,
claro, coxeou. Qualquer analista independente o preveria com facilidade caso adivinhasse
o fim da permeabilidade dos árbitros à coacção de vária ordem. E houve Benfica,
estrutura, Lage, miúdos do Seixal integrados num núcleo de jogadores
experientes e, sobretudo, estofo de campeão. Houve demasiado Benfica para tão
pouco F.C.Porto, abandonado a si próprio.
A história do ego ficou por aqui, pois já não é o que lhes dificulta
a aceitação do desaire e subsequentes protestos delirantes. Esses provêm da
propaganda interna e da habitual tentativa de condicionamento da época seguinte.
Continuemos atentos e rumo ao 38!
Jornal O Benfica - 24/5/2019
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