sábado, 25 de maio de 2019

Campeões!


O admirável escritor Mário de Carvalho, em tempos, referiu-se ao ego, cuja palavra, “lida na natural direitura, apenas lhe falece um 'c' para não ser 'cego'”, explicando, inadvertidamente, a temporada futebolística prestes a findar.

Os dirigentes portistas, ofuscados pelo sucesso da época passada, glorificados pelos seus acólitos e nunca perturbados pela comunicação social, julgaram ter encontrado a fórmula perfeita para, senão perpetuar, pelo menos esticar o tal sucesso. E a vida correu-lhes bem: se a competência em campo vacilava, a força fora dele compensava. Mesmo árbitros imunes à magia da supracitada fórmula teriam os seus limites, nem que, para que soçobrassem, fosse necessária uma conversa em centros de treinos.

O ego cresceu e a cegueira aumentou, iludindo quem, julgando que práticas recicladas reproduzem efeitos iguais, passearia no campeonato e apostaria na Europa. Mas a máquina em campo engasgou-se com experiências tácticas e os árbitros atingiram o ponto de saturação em Braga. Após essa partida, o F.C. Porto, até então levado ao colo, viu-se obrigado a andar e, claro, coxeou. Qualquer analista independente o preveria com facilidade caso adivinhasse o fim da permeabilidade dos árbitros à coacção de vária ordem. E houve Benfica, estrutura, Lage, miúdos do Seixal integrados num núcleo de jogadores experientes e, sobretudo, estofo de campeão. Houve demasiado Benfica para tão pouco F.C.Porto, abandonado a si próprio.

A história do ego ficou por aqui, pois já não é o que lhes dificulta a aceitação do desaire e subsequentes protestos delirantes. Esses provêm da propaganda interna e da habitual tentativa de condicionamento da época seguinte. Continuemos atentos e rumo ao 38!


Jornal O Benfica - 24/5/2019

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