terça-feira, 22 de agosto de 2023

“O futebol és tu”

Começo por dizer que aplaudo todas as iniciativas que fomentem a ida de adeptos aos estádios. Logo, aplaudo a iniciativa “O futebol és tu”, promovida pela Liga na presente temporada.

No entanto, creio que o problema que esta acção procura mitigar resulta de outras questões mais profundas. A venda de bilhetes a preços mais baixos torna a ida a um estádio mais comportável, mas tem um impacto nulo nas restantes variáveis, tais como, entre outras, as condições de acesso e permanência nas bancadas, a segurança, a qualidade dos relvados, os horários dos jogos, o nível dos espectáculos ou a competência das arbitragens.

E não ajuda que a Liga tente doirar a pílula neste tema. São várias as frentes carecidas de soluções, todas devem ser abordadas com carácter de urgência.

Repare-se no comunicado da Liga sobre a iniciativa, intitulado “O estrondoso sucesso do arranque da campanha O Futebol és Tu”, no qual são divulgados uma série de dados que procuram justificar o elogio em sede própria.

Face aos dados apresentados, não nego o impacto positivo da medida, embora longe de “estrondoso”. Mas há que relativizá-los, bastando para isso constatar que seis dos nove jogos realizados tiveram uma assistência inferior a 5700 espectadores e cinco das partidas não ultrapassaram os 4300 adeptos nas bancadas.

Mesmo a tão evocada melhoria na taxa média de ocupação dos estádios deveria causar incómodo, ao invés da autopromoção. A maioria das lotações são exíguas e, ainda assim, esteve-se longe de casas cheias. Exceptuando-se o caso do Moreirense, cujos 5674 espectadores no jogo com o FC Porto ocuparam 92,2% dos lugares disponíveis, só mais dois estádios tiveram apresentaram uma moldura humana acima dos 70% da capacidade disponível (Bessa e Alvalade, ou seja, jogos do Benfica e Sporting).

É curto, muito curto. Tão curto que o “sucesso estrondoso” só se aplica à falta de noção ou vergonha.

É a liga faz de conta que temos. A mesma que, enquanto diz aos adeptos que o futebol são eles, permite que muitos deles paguem 70€ por um bilhete e sejam limitados no uso de adereços relativos ao clube que apoiam, sem que se perceba a razão, dado que, segundo relatos de quem lá esteve, todos os adeptos nessa bancada eram afectos ao clube visitante, o Benfica. A confirmar-se, a pretensa medida de segurança não mais é do que uma tentativa de ilusão quanto à dimensão da massa adepta do clube visitado. Nada de novo, diga-se de passagem.

Jornal O Benfica - 18/8/2023

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