quinta-feira, 27 de junho de 2019

Propagandistas


No relatório e contas do SLB relativo a 1954, página 16, há uma pequena secção dedicada à aquisição de um autocarro – o primeiro do Benfica. Comprado ao popularíssimo actor Francisco Igrejas Caeiro, o avultado investimento permitiria poupar nos crescentes custos de deslocação das equipas e proporcionar maior conforto e segurança aos atletas. Igrejas Caeiro havia adquirido o autocarro meses antes por cerca de 1100 contos. Vendeu-o por 450 e mereceu, conforme se pode ler no relatório, o seguinte tratamento por parte do Benfica: “O nosso querido amigo e prestigioso consócio”.

Acontece que Igrejas Caeiro, não obstante o seu reconhecido benfiquismo, se viu obrigado a vender o autocarro que adquirira para a sua companhia. Instado a nomear o maior estadista da sua geração numa entrevista ao jornal “Norte Desportivo”, referiu o indiano Nehru, o que foi considerado subversivo e lhe valeu, por decreto governamental, o impedimento de actuar publicamente. Sem poder trabalhar, o autocarro deixou de ter qualquer utilidade para Caeiro. À necessidade benfiquista, juntou-se a oportunidade de ajudar quem se viu privado do seu sustento.

Este é mais um excelente exemplo dos muitos que contrariam os revisionistas que acusam o Benfica de ter sido o clube do regime. Para o Benfica, Igrejas Caeiro continuou a ser, apesar de proscrito pelo Estado Novo, “querido amigo e prestigioso consócio”.

Mas verdade seja dita, esses propagandistas já nem entre os seus têm qualquer credibilidade. Veja-se a sondagem da Aximage sobre a justiça da decisão dos tribunais em punirem o FC Porto no chamado “caso dos emails”. São mais, entre portistas e sportinguistas, os que não discordam da decisão...

Jornal O Benfica - 28/6/2019

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