No relatório e contas do SLB relativo a 1954, página 16, há
uma pequena secção dedicada à aquisição de um autocarro – o primeiro do Benfica.
Comprado ao popularíssimo actor Francisco Igrejas Caeiro, o avultado
investimento permitiria poupar nos crescentes custos de deslocação das equipas
e proporcionar maior conforto e segurança aos atletas. Igrejas Caeiro havia
adquirido o autocarro meses antes por cerca de 1100 contos. Vendeu-o por 450 e
mereceu, conforme se pode ler no relatório, o seguinte tratamento por parte do
Benfica: “O nosso querido amigo e prestigioso consócio”.
Acontece que Igrejas Caeiro, não obstante o seu reconhecido
benfiquismo, se viu obrigado a vender o autocarro que adquirira para a sua
companhia. Instado a nomear o maior estadista da sua geração numa entrevista ao
jornal “Norte Desportivo”, referiu o indiano Nehru, o que foi considerado
subversivo e lhe valeu, por decreto governamental, o impedimento de actuar
publicamente. Sem poder trabalhar, o autocarro deixou de ter qualquer utilidade
para Caeiro. À necessidade benfiquista, juntou-se a oportunidade de ajudar quem
se viu privado do seu sustento.
Este é mais um excelente exemplo dos muitos que contrariam
os revisionistas que acusam o Benfica de ter sido o clube do regime. Para o
Benfica, Igrejas Caeiro continuou a ser, apesar de proscrito pelo Estado Novo,
“querido amigo e prestigioso consócio”.
Mas verdade seja dita, esses propagandistas já nem entre os
seus têm qualquer credibilidade. Veja-se a sondagem da Aximage sobre a justiça
da decisão dos tribunais em punirem o FC Porto no chamado “caso dos emails”.
São mais, entre portistas e sportinguistas, os que não discordam da decisão...
Jornal O Benfica - 28/6/2019
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