segunda-feira, 24 de julho de 2023

Ânimo aos pessimistas militantes

Gosto do defeso. Chamam-lhe, com propriedade, silly season – época tonta – apesar das decisões importantes que são tomadas pelos clubes nesta altura. É campo fértil para entusiasmos desmesurados, os fatalismos tendem a esvanecer depressa, a inconsequência das emoções impera. E isso diverte-me.

Acresce o interesse inusitado por eventos cuja relevância é manifestamente reduzida. Ver futebolistas a correrem à volta do relvado de jogo torna-se um gerador prolífero de pistas para se adivinhar o onze titular; um sorriso de um jogador à chegada ao centro de estágio logo é transformado numa promessa velada de inauditas conquistas; um qualquer pormenor da camisola alternativa poderá provocar a sensação de que se estará a hipotecar o triunfo dos títulos almejados.

E há os jogos particulares, em teoria mais propícios ao estímulo de bocejos, na prática, para alguns, uma plataforma de formação de opiniões definitivas, para quase todos, desafios de suprema importância, imperdíveis, bálsamos de vínculo emocional após a inatividade que os confrontos entre selecções não preenchem.

Nada disto é tonto. É paixão e dedicação, é clubismo, e pouco será mais importante, para quem o sente, do que o amor por um clube.

Tão importante que são múltiplas as vivências e todas são válidas. Mesmo aquelas que me chateiam, das quais relevo as norteadas pelo pessimismo militante exacerbado, imune a sucessos e a provas dadas, mais enfático no defeso por carência de acontecimentos substantivos. É mais comum do que se possa imaginar.

Na preparação para cada episódio do programa “A Época em Revista na BTV”, no qual participo, procuro apreender o estado de espírito da nação benfiquista ao longo da temporada. Consulto fóruns, vejo os comentários de cada jogo nas redes sociais e nas notícias online. Após uma época de sucesso como 2022/23, esta análise retrospectiva torna-se caricata, embora seja compreensível que, ao longo do ano, seja acentuada a dimensão de escape de anseios e frustrações.

Menos aceitável é, no entanto, esta mesmíssima postura no defeso. Não atinge, porventura, uma percentagem considerável de adeptos, mas fico perplexo com as críticas que vou encontrando a Roger Schmidt, Norberto Alves, Nuno Resende ou Marcel Matz, só para nomear os treinadores das equipas masculinas campeãs nacionais.

Bem já me disse o meu pai muitas vezes: um treinador, para que haja muita gente a achá-lo incompetente, só precisa de vir para o Benfica. E eu aproveito para parafrasear a Margaret Thatcher, de quem não sou particular admirador, mas gosto da frase: Se alguns benfiquistas vissem um qualquer treinador do Benfica a andar sobre o rio Tejo, diriam que o faz por não saber nadar.

O que vale é que somos tantos benfiquistas que muitos, no caso do Benfica, pode cingir-se a uma pequena fatia da massa adepta. E sei que só assim pode ser, tal foi o sucesso em 2022/23.

Jornal O Benfica - 21/7/2023

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